segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A BENÇÃO DOS BACALHOEIROS - PONTO ALTO DA REPRESENTAÇÃO ÉPICA DA "CAMPANHA DO BACALHAU"



O lugre "Hortense" na companhia de outros
navios da frota, em plena cerimónia da benção
em frente aos Jerónimos
  Antes da era corporativa (1936) a largada dos navios despertava alguma curiosidade popular, atraindo muita gente junto a Belém, onde a frota fundeava para abastecer antes de zarpar para a T.Nova e era tudo.

O lugre “Hortense”  foi adquirido em inícios de 1933 pela Parceria Geral de Pescarias, Lisboa, directamente ao construtor pela quantia de Esc. 350.000$00. Embarcação de 3 mastros, tinha proa de beque e popa redonda, com 1 pavimento. A carena encontrava-se forrada com cobre e tinha montado um motor de 9 cilindros para virar o cabrestante.

Tripulações da frota bacalhoeira, assistindo
 frente aos Jerónimos à missa campal, em 1938

A partir de 1937 em diante, até 1974, a bênção realizar-se-ia sempre por inícios de Maio, quando toda a frota se reunia para uma espectacular largada frente ao Mosteiro dos Jerónimos, espaço mítico e simbólico desde os tempos de Gama e Cabral.
Este evento de uma só assentada, vem de encontro ao interesse do regime, pois reúne na mesma celebração a Igreja Católica, a Organização Corporativa das Pescas, a Marinha, e Organizações Milicianas de Inspiração Fascista ligadas ao aparelho  de Estado.

1938 Navios Bacalhoeiros fundeados no Tejo, frente a Belém e prontos a receber a Bênção pelo então Cardeal Cerejeira e as Autoridades Civis com a presença do então Senhor Almirante Tenreiro, os Bacalhoeiros estão preparados para mais uma viagem de 6 meses mais e menos, uns ficavam na Terra Nova, outros navegavam mais longe, para Groenlândia, porque nesses anos já os Navios Bacalhoeiros a maioria tinham motor auxiliar as velas, por isso eram os lugres motor, mas ainda existiam Navios só de vela, onde a coragem e o espírito de equipa estavam presentes em todos os momentos do dia.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MESTRE MANUEL MARIA BOLAIS MÓNICA, O ÚLTIMO GRANDE CONSTRUTOR NAVAL EM MADEIRA PORTUGUÊS


O lugre "Novos Mares" um dos primeiros
da nova frota construído em 1938
  Construtor Naval desde muito novo, cuja arte aprendeu com o seu pai José Maria Bolais Mónica. Após o seu nascimento, em 11 de Julho de 1889, em Ílhavo, toda a família se radicou na Gafanha da Nazaré.

O LUGRE "CONDESTÁVEL" UM DOS BELOS
PRODUTOS SAÍDOS DESTE ESTALEIRO EM 1948

Em 1910, o Pai Mónica entendeu aproveitar a colaboração dos seus dois filhos, Manuel e António, que deveriam ser os continuadores da sua obra. Foi assim que, apenas com 21 anos de idade, Manuel Maria iniciou a sua carreira de construtor naval em que obteria plena consagração.

Por detrás de um belo navio estará sempre o cunho, a sensibilidade e a arte do seu construtor. Os navios que formaram a famosa “White Fleet” são todos bons exemplos da grande qualidade e elegância, que o estaleiro do Mestre Manuel Mónica empregava em todos os navios que lançou ao mar.


O Estaleiro do Mestre Mónica na Gafanha
 
O seu estaleiro foi, sem dúvida, uma escola da arte de manejar o machado e a enxó, oferendo o país mestres qualificados, oriundos de vários cantos de Portugal, de alguma forma ligados às madeiras
Perito na construção em madeira, das suas mãos privilegiadas e competentes, saíram muitas dezenas de navios de linhas airosas: traineiras, cargueiros, bacalhoeiros, lugres, rebocadores, lagosteiros, etc. Mas foi o lugre, o tipo de embarcação que melhor identificou o carimbo de altíssima qualidade deste estaleiro. As linhas airosas, altos panos, as proas bem lançadas e as bordas firmes, exprimiam o verdadeiro cunho pessoal e inconfundível, desta autêntica universidade do mar, aos seus produtos finais.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

WHITE FLEET" a FROTA que o TEMPO ESQUECEU

No final dos anos 30 do século XX, enquanto os  principais concorrentes na pesca do bacalhau  (Espanhóis, Franceses, Ingleses) investiam fortemente em grandes frotas de arrastões contruídos em aço, Portugal iniciava a construção da famosa "WHITE FLEET construída em madeira.


                                                  Arrastão espanhol "Vendaval" construído em 1928 para a PYSBE

Construir um lugre, um navio-motor ou outro qualquer navio em madeira implicava a procura de matéria-prima própria. Devido à escassez de materiais provocado pela guerra, a madeira foi o material por excelência. Tendo sido o pinho (manso e bravo), o carvalho, o pinho do Oregon e algumas madeiras exóticas brasileiras as mais utilizadas.

A ossada (esqueleto) dos navios tem de ser formada por madeiras duras e resistentes. Assim sendo, para o cavername foi escolhido o carvalho, utilizado também  noutras aplicações onde a sua capacidade de resistência é necessária: contra-roda, coral da proa, braços das cavernas etc.

Esta Magnífica frota começou a ser construída em 1936, aquando do lançamento à água do famoso lugre “Brites”, e só parou de crescer em 1960  quando o casco do navio-motor “Rainha Santa” desceu a carreira de lançamento da Gafanha da Nazaré. Pelo meio foram construídos cerca de 70 novos magníficos navios, e mais alguns bons navios foram comprados em segunda mão.
As características dos novos Lugres (17 navios do tipo “Brites”):

Deslocamento médio (500 – 700 toneladas brutas)
Câmaras frigoríficas / Salas de TSF / Luz eléctrica
Comprimento fora a fora em média 55m
Mastros bem guindados – Pouca palha / Sem pau bujarrona (gurupés)
Caldeiras para aquecimento central / casas de banho
Tipo de proa (Colher) – Maior capacidade para armazenar carvão
Gaiúta para o timoneiro / Sala de Oficiais
 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O NASCIMENTO DA FAMOSA "FROTA BRANCA"

  O período de 1934 a 1967 está associado a uma reorganização profunda desta indústria feita pelo Estado Novo, designada por “Campanha do Bacalhau”.

Causas Principais:
  A pressão dos consumidores exige que, anualmente, se   importem grandes contingentes do estrangeiro, com inegáveis prejuízos para a economia nacional. (No início dos anos 30, das 50000 ton. importadas anualmente, somente 10% foi transportada em navios nacionais).Nos anos 60 aquela quantidade  subiu para as 250.000 ton, sabendo-se que 80% foi trazida por navios nacionais.

Consequências:

Criação de Medidas legislativas onde se destacou :

São Construídos grandes armazéns refrigeradores no Porto, Aveiro e Lisboa.
 - Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau criada a 5 de Junho de 1934.
Um ano após a sua criação gerou a promoção do consumo através de uma política de preços baixos e tabelados, o que lhes permitiu proceder ao incremento das secas e dos estaleiros navais.

A Acção do Comandante Henrique Tenreiro, como Delgado do Governo, junto do Grémio dos Armadores, foi  decisiva no apoio social aos pescadores.
- A Acção do Comandante Henrique Tenreiro, como Delgado do Governo, junto do Grémio dos Armadores, foi também decisiva no apoio social aos pescadores.

- Grémio dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau:   Algumas das suas atribuições:
 A Renovação da Frota:
Tinha como meta o aumento imediato das capturas, logo a redução  drástica das importações. O primeiro passo seria substituir a frota caduca e desactualizada por navios  mais rendíveis e seguros (Entre 1936 e 1961 foram aumentados à frota Nacional cerca de 100 novos navios, dos quais 90% foram novas construções feitas em estaleiros nacionais), pois um decreto-lei datado de 1953 assim obrigava.
 
 






quarta-feira, 17 de outubro de 2012

HOMENS DE FERRO EM NAVIOS DE MADEIRA


Os pescadores que durante a navegação eram também
verdadeiros mareantes na ajuda que davam na faina das velas
Frase Histórica Mencionada Com Espanto E Admiração Por Um Comandante De Um Cruzador Americano, Que Durante A Segunda Guerra Mundial, Em Pleno Atlântico Norte E Debaixo De Condições Atmosféricas Terríveis, Cruzou Com Um Lugre Portugês Que Estoicamente Navegava Em Direcção Aos Grandes Bancos

Foi a última grande actividade económica que fez uso da navegação à vela em viagens transoceânicas. Quando toda a concorrência desde os anos 30 (espanhóis, franceses, ingleses) já tinham as suas frotas completamente mecanizadas.

Os lugres da praça do Porto "Ana Maria" "Paços Brandão"
e "Aviz" fundeados no Douro no intervalo entre campanhas
O cavalo de batalha que mais protagonismo teve nesta magnífica  epopeia, especialmente  no período entre a década de 30 e o ano de 1973, altura em que o famoso "Creoula" zarpou para a sua última campanha nos grandes bancos.  Foi inequivocamente o "Lugre" . Tipo de veleiro com características muito particulares e bem adaptado para os mares muito duros dos grandes bancos.
Características principais do lugre que constitui a excelência da evolução do navio de pano latino :
Três ou mais mastros (bem guindados) altura  Pouca palha – Diâmetro
Deitando em todos os mastros pano latino  Regra geral armam com retranca e verga.
Dois tipo de proa: Beque / Colher   Gurupés: Com ou Sem  Pau de Bujarrona

A ÚLTIMA FROTA DE VELEIROS DO SÉCULO XX

Existem várias páginas da nossa história muito mal contadas, como a Implantação da Républica a guerra no Ultramar etc.
Esta que eu vou tentar contar neste blogue, é seguramente aquela que tem sido a mais mal tratada delas todas.

Há várias razões para que a pesca do bacalhau à linha em Portugal possa ser considerada como a segunda grande Epopeia da Saga do nosso povo, mas com uma grande diferença é que esta continua injustamente esquecida até aos nossos dias.

 

                                    Bênção da Frota nos anos 60.
 Todos os anos no início de Maio, o ritual se repetia em frente aos Jerónimos

Foi a última grande actividade económica em todo o mundo, que fez uso da navegação à vela em viagens transoceânicas.

A história da pesca do bacalhau complementa a história dos descobrimentos.

Esteve na base de toda a logística das grandes navegações, uma vez que era um produto não perecível, como outras espécies mais comuns das nossas costas, tais como a sardinha ou o carapau.